terça-feira, 4 de setembro de 2007


Os Inomináveis
A menina Kátia Borges, imersa nos escritos de Rainer Maria Rilke, confessou ontem que os textos do poeta lhe resgatam da dor, acenando com asas sobre o abismo.
Porém, antes que o apressadinho coloque a mão no coldre, aviso logo que não cometerei a heresia de estabelecer uma interlocução com a sensível e inteligente Kátia. Nécaras. Até minha falta de noção tem limites. Trago-a a esta ordinária budega ingresiástica somente por causa do seguinte título que ilustra um de seus posts : O animal sem nome.
Amigos, em verdade, vos digo: Não há destino mais cruel do que o do ser inominado. Reza a lenda, inclusive, que animais desta espécie morrem cedo. Por mais feio que seja, quando nada, nome ainda é destino. E mesmo os bichos mais xexelentos têm direito a um nome.
Os bichos xexelentos, sim. As pessoas, não. Pelo menos é isso que se observa nas manchetes de jornais. Sirlei Dias de Carvalho Pinto perdeu o direito até mesmo ao presente que recebeu na pia batismal. Depois de ser espancada, ela virou apenas doméstica.
Mas, há casos piores. Ela, ao menos, ainda é identificada com um trabalho, uma função. Já os que foram assassinados no Carandiru, por exemplo, são somente um número: 111. Ninguém se importa se ali existia um Jovemar, um Grimário, um Jesuíno ou mesmo um João.
Acontece que ainda não chegamos ao abismo, que parece não tem fim. Há casos ainda piores. Os massacrados no Morro do Alemão não tem direito nem mesmo a um número exato. O Globo diz que foram 19, o Estadão, 13, o Portal do Uol informa que morreram 18, enquanto o Terra chegou a garantir que eram 20.
A tragédia brasileira não respeita nem a matemática, que, no tempo de minha mudernagem, ainda era uma ciência exata.

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