terça-feira, 4 de setembro de 2007

Retrato falado do alcoolismo



“Concedei-nos Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. Essa oração é para Diógenes Dantas, 50 anos, presidente e coordenador da Sede dos Alcoólicos Anônimos, pertencente ao Grupo Liberdade Distr. III, o principal lema da casa.
Apesar de ser um dos colaboradores da sede, Diógenes afirma que é um alcoólatra, pois, para ele, não existe ex. dependente: “Para princípio de conversa, o alcoolismo é, já diagnosticado pelo Ministério da Saúde, uma doença e uma doença grave. Irreversível. Uma vez que, a substância do álcool, já instalada no organismo humano, principalmente na parte do cérebro, mesmo que o usuário já tenha parado de beber por três meses ou quinze anos, deixa no indivíduo uma herança de seqüelas catastróficas”, admite.
De estatura mediana, mais ou menos 1,68m de altura, pele negra, olhos levemente amarelados, vestindo roupa comum (calça jeans e camisa de botão), usando óculos, de olhar desconfiado e uma postura que, apesar de serena, gesticula ainda alguns sintomas da doença. Balançando compulsivamente as pernas, Diógenes afirma que teve uma infância tranqüila, mas, uma juventude difícil, embora tenha chegado a terminar o estudo fundamental.
Ao alcançar a maturidade, Diógenes Dantas revela ter iniciado o verdadeiro inferno da sua vida quando deu o 1º gole aos 10 anos. Já casado, pai de um filho, comerciante e proprietário de uma oficina mecânica de automóveis, afirma já ter perdido R$50.000 por causa do álcool: “Praticamente todo o dinheiro que ganhava na minha oficina, eu gastava na bebida e por conseqüência dela, adquiri um novo vício: gastava também no jogo. Descia a ladeira, esquina da rua em que morava no bairro da Pero Vaz, aqui mesmo na Liberdade e lá ia eu fazer as minhas besteiras, crente que estava abafando”, contou emocionado.
O sofrimento de Diógenes não parou por aí. Após ter praticamente perdido seu próprio negócio, perdeu também a sua família. “Já cheguei agredir a minha esposa, urinar dentro da geladeira, ver vultos e pior, no dia seguinte não lembrar de nada e ficar irritado quando me contavam o que eu fiz no dia anterior. Eu simplesmente, não acreditava”. Este homem, que um dia já foi dependente do álcool, embora não goste de ser considerado assim, revela que os sintomas dessa doença são cruéis: “É uma doença espiritual sem dúvida! A gente fica rebelde, agressivo, vira valente por qualquer motivo, têm surtos de demência, prepotência, intoxicação, alucinações alcoólicas... e por aí vai, sem falar nas seqüelas de caráter biológico que se instala nos órgãos, provocando cirrose hepática, nervosismo, impotência sexual e mental, olha, é terrível”, afirmou Diógenes.
O atual presidente e coordenador da Casa de Recuperação dos A.A., localizada no bairro da Liberdade, à Rua Lima e Silva, nº 250 num prédio branco sobre a loja Magazine Continental, não trabalha sozinho. “Tenho como companheiro, meu secretário Pedro Pereira, de 63 anos, que é um assistente social aposentado e de três em três meses nós revezamos com um outro grupo que desempenha o mesmo papel que a gente, é como se fosse um grupo substituto e essa mudança é necessária porque não podemos criar vínculos com os “pacientes” e porque também levar a coordenação direto, sem interrupção é extremamente cansativo tanto para a gente como para eles”, revelou.
Após ter decidido ingressar como colaborador da casa, Diógenes demonstrou uma preocupação em destacar durante a sua administração dentro da sede, aspectos que viessem levar o indivíduo a buscar a cura realmente. O seu objetivo era mostrar a possibilidade de recuperação através de reuniões anônimas direcionadas a pessoas que já se encontravam em estágios avançados da doença: “Eu resolvi seguir, juntamente com os propósitos da JUNAAB – Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil, que fica em São Paulo, propostas de reflexões diárias para um melhor entendimento do que venha a ser o objetivo do tratamento. Decidi destacar essas propostas como exemplo de mim mesmo, me baseando nas minhas próprias experiências enquanto lutava desesperadamente pela cura contra o vício”, conta.
Essas propostas, ditas por Diógenes, levaram ao coordenador, a admitir durante o período do seu tratamento, a convicção de que os Alcoólicos Anônimos tem como reflexão diária mostrar aos dependentes do álcool, os riscos que correm diante da sociedade em que vivem. Têm como objetivo proteger os dependentes de uma publicidade perversa, insensível e esmagadora: “A sua tarefa é conscientizar essas pessoas viciadas no álcool como eu fui, a esforçar-se em freqüentar as reuniões, praticando os 12 passos necessários ao admitirem que sejam portadores da doença, ter cuidado com a raiva e os ressentimentos, viver e deixar viver, ir com calma, mas ir, nunca esquecer de como e por que o levaram a procurar uma casa de recuperação, eliminar a auto piedade, abandonar os velhos hábitos e compartilhar de mãos dadas com o silêncio”.
Diógenes desabafou emocionado que não esperava chegar a onde chegou: “Considero-me um abençoado, pois, até palestrantes psicólogos, médicos, pedagogos e especialistas na área, vêm constantemente nos visitar, nos dando apoio e principalmente, nos fazendo acreditar na recuperação de uma dignidade que um dia, todos nós, dependentes químicos do álcool, pensávamos que tínhamos perdido”, concluiu. A sede dos alcoólicos anônimos do bairro da Liberdade é composta hoje, pelo Grupo Liberdade Distrito III que foi fundado em 24 de Agosto de 1979 e que realiza ininterruptamente há 27 anos, reuniões de segunda a sexta, das 19h30 às 21h30, aos sábados das 16h às 18h e aos domingos e feriados das 10h às 12h e que tem conquistado grandes temas nas reuniões, como os relacionados à literatura, à temática e a vivência.
Perfil do Presidente e Coordenador do A. A. (Alcoólicos Anônimos)

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